Mulheres na literatura: quem é Leïla Slimani?

Mulheres na literatura: quem é Leïla Slimani?

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Blog - Escritoras contemporâneas
- 06/04/2022 18:26:45

Nascida em 1980 em Rabat, a capital do Marrocos, Leïla Slimani cresceu em uma família liberal, onde se falava francês. Aos 17 anos mudou-se para Paris para estudar Ciências Políticas e Comunicação Social na conceituada universidade Sciences Po. Tentou ser artista depois de se formar, mas foi como jornalista da revista Jeune Afrique que deu início à sua carreira de escrita. Foi presa na Tunísia em 2011, enquanto reportava sobre a Primavera Árabe e decidiu ser escritora depois do incidente. Em 2013, participou da oficina de escrita de Jean-Marie Laclavetine, editor da renomada editora parisiense Gallimard, que gostou do estilo de Leïla e a ajudou a aperfeiçoar o seu texto. Ele é seu editor até hoje e é uma das pessoas em quem a autora mais confia na hora de mostrar seus manuscritos.

"No Jardim do Ogro" foi seu primeiro romance, lançado na França em 2014. Foi muito bem recebido pela crítica, chegou a ser selecionado para o Prix de Flore, do café parisiense de St-Germain-des-Près, e ganhou o Prêmio La Mamounia, no Marrocos, outorgado à literatura marroquina escrita em francês. O livro conta a história de Adèle e suas compulsão por sexo. A inspiração da personagem veio do ex-político francês Dominique Strauss-Kahn, ninfomaníaco preso nos Estados Unidos por abusar de uma camareira de hotel. Teria sido candidato à presidência da França não fosse o ocorrido. Slimani procura escrever sobre sexo como ele acontece na vida real, sem usar um vocabulário vulgar e pornográfico nem cheio de erotismo e glamour. Sexo é apenas sexo, com seus sons, cheiros, vergonhas e frustrações.

Leïla lançou seu segundo romance, "Canção de Ninar" em 2016, com o qual ganhou o Prix Goncourt, o maior prêmio literário da França. O livro foi adaptado para o cinema em 2019 e esteve na lista dos best-sellers em vários países europeus e no New York Times, nos Estados Unidos. Foi eleito um dos 10 melhores livros do ano pelo jornal nova-iorquino em 2018. A relação de uma mãe com a babá de seus filhos pequenos é a trama central do livro, que tem um desfecho trágico. Suas personagens costumam despertar sentimentos contraditórios e desconfortáveis nas leitoras, mas a autora diz que é preciso lembrar que todas as pessoas têm direito a uma certa dignidade, mesmo fazendo coisas hediondas. Não é certo desumanizar alguém, como estupradores e assassinos. É preciso aceitar que há algo de monstruoso na humanidade.

Temas controversos são o que motivam Slimani. Ela gosta de escrever sobre sexo, sobre as contradições da maternidade e sobre o papel da mulher na sociedade. Em 2017, foi escolhida pelo presidente Emmanuel Macron como sua representante pessoal na Organização Internacional da Francofonia, para promover a língua francesa e a diversidade cultural pelo mundo. No mesmo ano lançou o controverso "Sexo e Mentiras: a vida sexual no Marrocos" e desde então é severamente criticada por islamistas e racistas, que a acusam de ser "uma pessoa de cor que compactua com os brancos" para difamar os valores do Marrocos. Vale dizer que Leïla também critica as penalizações homofóbicas e o controle dos corpos femininos no país do Norte da África. Mas segundo Leïla, ela não se considera francesa ou marroquina. Sua pátria é a língua, é uma biblioteca. Em uma biblioteca, sente-se em casa em qualquer lugar, seja em Paris, Parati ou Tóquio.

No momento, sua produção literária centra-se na trilogia "O País dos Outros". Lançou o primeiro volume "A guerra, a guerra, a guerra" em 2020. Em 2022 publicou o segundo volume "Vejam-nos dançar". O romance trata da história ficcionalizada de sua avó alsaciana Mathilde, que apaixona-se por um soldado marroquino que luta no front na Segunda Guerra Mundial ajudando a liberar a Alsácia da ocupação alemã. Como se não bastassem esses livros, também participou, em 2021, da coleção "Minha Noite no Museu" com o livro "O perfume das flores da noite" onde divaga sobre o ato de escrever durante uma noite solitária no museu Punta della Dogana, em Veneza.

Leïla é casada, tem um filho e uma filha. Gosta de ler Chekov e Maupassant antes de dormir. Das vozes atuais, as que mais aprecia são Svetlana Alekseievitch, Toni Morrison, Lyudmila Ulitskaya, Maryse Condé e Laura Kasischke. Quando questionada pelo New York Times sobre qual livro que leu e que gostaria de ter escrito, ela cita "Blonde", de Joyce Carol Oates, que reimagina a vida de Marilyn Monroe e foi lançado no Brasil em dois volumes em 2021. Mesmo assim, na mesma entrevista, diz que só confiaria em si própria para escrever sua biografia.

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Leia aqui de uma entrevista de Leïla Slimani para a revista VEJA durante o Festival de Literatura de Parati
E aqui a rntrevista de Leïla Slimani para O Diário de Notícias de Portugal durante a Feira do Livro do Porto

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